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MARÍA ANTONIETA FLORES
(Nasceu em Caracas, Venezuela, em 1960-)
Poeta, ensaísta, professora universitária.
Magister em literatura latino-americana.
Cada palavra na sua mão ganha poder de metáfora.
Publicou: "El señor de la muralla" (1991), Canto de cacería (1995), Prêmio de Poesia de La I Bienal de Literatura Augusto Padrón; Presente que no en ausencias (1995), Agar (1996), Criba de Abril (2001), Los trabajos interminables (1998), La desalojada luz de la tarde (1999), Índigo (2001), Limaduras (2005), La voz de mis Hermanas (2005), Regrasaba a las injurias (2009).
Prêmio Municipal de Literatura com o ensaio Sophia y mithos de la pasión amorosa (1997).
Participou em 2008 do Festival Literário Internacional da Floresta, no Amazonas.
Transcrevo palavras de Luis Liscano:
"María Antonieta Flores advém à poesia sem sexo e à poesia com sexo, afirmando em seu fabulário, com pleno domínio do fato escritural, a essência da feminilidade entre as luzes do dia e da noite."
TEXTO EN ESPAÑOL
MORADA ANTIGUA
yo vengo de una estirpe de mujeres solas
eficaces
inembargables
derrotadas antes de nacer
por la muerte
siempre guardadas
como semillas que arrastra el viento
entregadas al sacrificio de la vida
sin un futuro ni un presente
sin vástagos que las resguarden
aprendidas en soledad
ellas mismas amamantándose
haciendo de cada día una victoria estéril
mujeres que hablan desde muy lejos
ahogadas en su torpeza y en la bruma del deseo
mujeres solas que arruinaron sus manos
en el oficio duro que le entregaron las prendas blancas
y perdieron sus días entre toses y dolores de pecho
conociendo todo de la pobreza
administrando los silencios y el alimento diario
entrando en las jornadas
con un dolor irremediable
estirpe sin grandes ambiciones
dulces mujeres que amaron sin respuesta
y fueron una tras otra
mano con mano
fundando la cadena del desamparo
del libro Deletérea (2015).
TEXTOS EM PORTUGUÊS
MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castellano. Seleção, tradução e notas de Thiago de Mallo. São Paulo: Global, 2011. 495 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Tradução de THIAGO DE MELLO:
Morada antiga
Eu venho de uma estirpe de mulheres sozinhas
eficazes
desimpedidas
derrotadas antes de nascer
pela morte
sempre guardadas
como sementes que o vento arrasta
entregues ao sacrifício da vida
sem um futuro nem um presente
sem herdeiros que as resguardem
aprendidas em solidão
elas próprias se alimentando
fazendo de cada dia uma vitória estéril
mulheres que falam de muito longe
afogadas em seu desajeito e na bruma do desejo
mulheres sozinhas que arruinaram as suas mãos
no ofício duro que lhe entregaram as paredes brancas
e perderam os seus dias entre tosses e dores do peito
conhecendo tudo da pobreza
administrando os silêncios e o alimento diário entrando nas jornadas
com uma dor irremediável
estirpe sem grandes ambições
doces mulheres que amaram sem resposta
e foram uma atrás da outra
de mãos dadas
fundando a cadeia do desamaparo
(inédito, 2009)
a beleza
A beleza fugiu de mim
e tudo se dilui
é o regresso ao olvido
já não sei de mim o nome
a Beleza tem sido esquiva
e burlando me desamparou
sem sequer deixar um rastro
nem de algo que lhe recordara
fugiu quando apenas me roçou
e não há quem me escute
2
A David
e me desses um pouco de silêncio
tão somente
um pouco
e me ouvisses
se escutasses o som dos estilhaços de vidro se
fazendo pó
no meu sangue
se o mais próximo ao rumor
que oculta o desespero
se a brevidade sonora da tristeza fosse perto
e o movimento de minhas folhas
fronda
se me desses um pouco de silêncio
para a maré que se retira
para a dor
o mais duro deste torrão desmoronado
e escutasses
o olhar
e escutasses
o esquecimento
e o amor que seca nas salinas
que anuncia a morte
o rumor da espinha
ao cair
se me desses um pouco de silêncio
talvez eu pudesse repousar
talvez voltar
talvez
se me desses
se um pouco
me desses de silêncio
a carícia lastimosa
a mão que o cabelo toca
das crianças
como a que não desejo mas é grata
tão próximo ao imenso
se me desses um pouco de silêncio
o sussurro.
O G U N
As artes dos metais
0 sólido se torna líquido
As altas temperaturas
E as armas para a guerra
Os utensílios domésticos
Os brincos e os anéis para o amor
Cuidas de ti mesmo
Para meus olhos seguirem teus sentimentos
Querendo te alcançar
Eu me teci uma túnica
Para me fazer opaca
Sigo teus passos como um espectro
0 distante joelho que se firma
Implorando clemência
Para os seus
0 tecido que se desgasta com a espera
Para que seus fios sejam do vento
Um rosto que se esconde atrás do leque
E deposita o amor em celas de cera
Uma mulher que perdeu cinco horas de vigília
Escreve
Deve-se sempre lavar os metais
A faca no solo assinala um rumo
*
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Página publicada em maio de 2021
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